terça-feira, 22 de junho de 2010

A importância do trabalho voluntário e o exemplo do Che Guevara.

Tirso W. Sáenz


O trabalho voluntário era parte da concepção do Che sobre a construção da sociedade socialista e comunista. Um dos temas centrais de suas reflexões e dedicações práticas foi a definição do trabalho na nova sociedade, a busca das vias para superar seu caráter mercantil. Seu aporte de ter gerado em Cuba o trabalho voluntário estava encaminhado precisamente para favorecer a tendência à desalienação do trabalho, a criação de uma nova consciência na sociedade cubana.
Sobre o trabalho voluntário o Che expressou:
O trabalho voluntário, fundamentalmente, é o fator que desenvolve a consciência dos operários mais que nenhum outro.
Neste sentido o trabalho voluntário não deve ser avaliado pela sua importância econômica – ainda que tenha. Ele deve ser considerado fundamentalmente como um motor que desenvolve a consciência dos trabalhadores, ainda mais quando esse trabalho se realiza em lugares diferentes do seu lugar habitual de trabalho. Isto é particularmente para aqueles trabalhadores que trabalham no setor administrativo, que não conhecem muitas vezes as condições do trabalho da produção material.
O trabalho voluntário se converte desta foram em um veículo de ligação entre os trabalhadores do setor produtivo e do setor administrativo ou intelectual.
O Che, quando era Ministro de Indústrias em Cuba organizou a Brigada Vermelha para o trabalho voluntário. O Che era o chefe. O compromisso dos membros – a participação nessa brigada não era obrigatória – era trabalhar 240 horas voluntárias durante um semestre, ou seja, o equivalente a cerca de 10 horas voluntárias semanais, considerando-se apenas as horas de trabalho físico em alguma atividade produtiva. As horas-extras trabalhadas na atividade administrativa própria constituíam parte do trabalho normal. A meta era dura. Para alcançá-la, era necessário participar, todas as semanas, das jornadas de trabalho voluntário que, geralmente, duravam 4 horas e, além disso, tomar tempo das férias para completar as horas de trabalho produtivo.
Che, como em qualquer outra atividade, era um exemplo vivo. Ele participou como um operário agrícola no corte manual da cana de açúcar; inclusive ele esteve um mês cortando cana com a primeira cortadeira construída em Cuba. Ele trabalhou também na construção, na planta de farinha de trigo em Havana e numa das plantas têxteis, entre outras.
Geralmente, os que realizavam trabalho voluntário se reuniam à frente do edifício do ministério, por volta das 5 ou 6 horas da madrugada, para tomar o caminhão que os levariam ao lugar onde se realizaria a tarefa do dia. Em muitas ocasiões, vimos o Che descer do seu escritório, a essa hora, sem ter dormido. Na maioria das vezes, ele montava no caminhão junto com os demais operários. Em outras poucas, viajava no seu carro para aproveitar o tempo do trajeto e dormir um pouco.
Muitas vezes estive com ele nessas jornadas. Lembro-me de um domingo em que, cortando cana, ele colocou atrás de cada um de nos um medidor para verificar a quantidade de cana cortada por unidade de tempo. No dia seguinte, no Conselho de Direção, mostrou os resultados: ele esteve entre os mais produtivos; eu, entre os últimos. Isso foi motivo de gozação para ele ao notar meu rosto envergonhado.
O trabalho voluntário tinha que ser realmente produtivo, pois ele respondia ao cumprimento de metas de produção - que poderiam estar em risco de não se realizarem - ou mesmo tinha de ultrapassá-las. Em uma ocasião, se organizou o trabalho voluntário numa fábrica. Quando chegamos, não se tinha preparado uma jornada de trabalho produtiva. Para entretermos nos indicaram recolher pedrinhas no quintal da fábrica. O Che brigou duramente com o administrador e deu instruções para nos retirarmos de imediato.
Certa vez, Che desafiou os funcionários da Junta Central de Planificação a uma competição para realizar trabalho voluntário durante várias semanas em duas fábricas têxteis diferentes. De comum acordo, se estabeleceram indicadores para medir a efetividade do trabalho. O trabalho começava nos sábados, às 12 da noite, e terminava nos domingos, às 6 da manhã.
Por este motivo, o trabalho voluntário deve ser uma ferramenta ideológica para todas as pessoas e muito especialmente para os jovens que pensam e lutam por um futuro melhor, por uma sociedade livre de exploração e injustiças. O exemplo do Che sempre servirá de guia.
(Tirso, escreveu este texto especialmente para os futuros brigadistas, a meu pedido)
Tirso W. Saenz
Doutor em Ciências Técnicas, engenheiro químico, cubano, formado no Rensselaer Polytechnic Institute (RPI), em Troy, Estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos, em 1954, como bolsista. Antes mesmo de formado foi contratado pela ProcterEtGamble, para trabalhar em uma filial em Cuba.
Com a vitória da Revolução, em 1960, as grandes empresas pertencentes a monopólios norte-americanos foram nacionalizadas. Ao tentar um visto para ir para os Estados Unidos, a arrogância de um vice-cônsul da embaixada norte-americana, no momento de sua entrevista, fez Tirso abandonar a idéia de sair de sua Pátria.
A sua incorporação no processo revolucionário não começou pela via da compreensão teórica, mas pelos caminhos de um sentido ético e da incorporação prática, decidida e entusiasta a um trabalho criativo e coletivo, que estava sendo útil a todo um povo.
Com o êxito do trabalho, foi reconhecido e nomeado chefe técnico da área de sabões e perfumaria no Consolidado Químico, que abrangia todas as empresas desse ramo em Cuba. Passados alguns meses foi indicado para a vice- diretoria de refinação do Instituto Cubano de Petróleo, que estava vinculado ao Instituto Nacional da Reforma Agrária( INRA) , sob a gestão do Comandante Ernesto Che Guevara. Em novembro de 1960, numa entrevista realizada, às duas horas da madrugada, horário normal de trabalho para o Che , depois de um aperto de mãos, Tirso, de fato, iniciava seu trabalho revolucionário.
Foi vice-ministro de Che Guevara no Ministério das Indústrias, de 1962 e 1965 . Publicou o livro O ministro Che Guevara –testemunho de um colaborador pela Editora Garamond.
“Trabalhei com Che os cinco melhores anos de vida “ Tirso W. Saenz

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